06 julho 2015

Conto - UM HOMEM PRA CHAMAR DE SEU

Kiko estava estudando na mesma faculdade de Bruno e os dois dividiam o mesmo quarto em uma república, já que moram longe de sua cidade natal. Desde o primeiro dia em que os dois passaram a morar juntos, Bruno percebeu que Kiko era gay e começou a imaginar coisas.
Logo nos primeiros dias, Kiko estava fora de casa e Bruno estava acabando de tirar a roupa para tomar banho, quando um pensamento preconceituoso veio à sua cabeça:

“Aposto que essa bicha vai reclamar da minha bagunça ou do fato de eu deixar minha cueca jogada pela cama... aposto que essa bicha vai querer cheirar as minhas cuecas até dizer chega quando eu não estiver aqui. Vou até deixar uma em cima da cama e prestar bem atenção onde a deixei, se ela estiver minimamente fora do lugar, eu vou fazer um barraco...”
Bruno sai de casa e quando volta, a cueca continua do mesmo jeito, no mesmo lugar.
No outro dia, Bruno tenta fazer a mesma coisa de novo. E nada acontece, novamente.
Naquela mesma semana, Kiko entra no quarto e Bruno está deitado na cama usando somente shorts, sem cueca. Bruno fica sem graça. Kiko passa batido por ele e parece nem ligar. Vai até sua cômoda e começa a procurar algo.
- Olha colega, hoje é sexta, então não volto pra casa tão cedo!”– Kiko fala enquanto passa perfume para sair á rua mais delicado que de costume – Se quiser trazer garotas, fique à vontade, só não se agarrem na minha cama, porque não quero lavar lençol...
Bruno pensa: “não sou como você que dorme com qualquer coisa que se move...”
- Tchau, amigo. – Kiko fecha a porta.
“... Mas bem que eu deveria sair mais com garotas ao invés de pensar na sua vida sexual.” – reconhece Bruno.

Naquela mesma madrugada, quando Kiko chega, cai na cama. Mal dá atenção se Bruno está lá ou não. Bruno, que acorda com os passos leves de Kiko, pensa:
“Essa bicha não vai mesmo tentar me seduzir? Não vai tentar me embebedar nem nada disso? Será que eu estou ficando velho? Caído?” ...

No sábado, Brunão resolve tomar uma iniciativa, resolve sair para a balada, pensando:
“Tenho que dar uma volta... conferir se as minas ainda me dão bola...”
Na balada, as meninas continuavam a pagar o maior pau, como de costume... Quando chega a seu quarto, vê Kiko dormindo.
“Aposto que está fingindo que está dormindo pra ver se eu cheguei bêbado e me atacar... Aposto que fez tudo isso de caso pensado e vai me agarrar quando me ver dormindo só de cuecas, quase pelado. Safada...”
Bruno se deita, mas seu pensamento não se cala: “Não posso nem dormir, senão essa bicha safada vai me agarrar”. RONC.

No outro dia, Bruno acorda assustado. “Estou intacto? Fui abusado? Será que está dolorido? Sujo?”.
Bruno se toca. “Não... está tudo intacto. Mas que bost...”
Bruno se surpreende com seu pensamento. “Mas que bom né, Brunão?”

Enquanto Bruno estava enrolando e pensando na cama, Kiko sai do banheiro tentando falar baixo ao celular:
- Então amiga, eu contei praquela bicha que se ela realmente quisesse ficar comigo...
“Essa bicha tem namorado? Por isso que ela não tenta me agarrar?” – pensa Bruno. “Que bom, deve ser pelo menos uma bicha de respeito. Acho.” Os dias se passavam e Kiko nunca dava mais atenção a Bruno do que o necessário. Talvez soubesse que não rolaria uma grande amizade entre um gay e um cara que só pelos olhares, demonstrava ser machista.
Mas Bruno ficava encucado porque se toda mulher caía a seus pés, toda bicha fresca também pagaria pau pra ele.
Então por que aquela bicha sem vergonha não olhava pro seu muque, pro seu tórax, o que tinha de errado com ele?
Mas a “bicha” quase sempre só passava perto de Bruno falando ao telefone. Bruno acreditava que provavelmente estava contando suas quentes aventuras sexuais para outra bicha tão sem vergonha quanto ela.
Bruno ficava cada dia mais incomodado. Passou a usar somente cuecas dentro do quarto. Kiko nem ligava. “Aposto que é inveja, ou amor recalcado!” - pensava Bruno.
“Ela deve estar é doida por mim. Essas bichas são tudo taradas. Não vai resistir por muito tempo!”
A coisa vai se complicando na cabeça de Bruno até que certo dia, Kiko entra em casa e Bruno está de cuecas, como de costume, com algumas cervejas em cima de sua cômoda e um tanto alto, fala para Kiko:
- Preciso beber com um amigo, pode ser você?

Kiko está com pressa, como sempre, mas fica sem jeito de recusar o convite do companheiro de quarto, vai que um dia precise de um favor semelhante... Então resolve sentar-se. E os dois começam a beber, cada um em sua cama. Kiko vestido alegremente e Bruno de cuecas.
- Por que você nunca se interessou por mim? – fala Bruno, logo de cara.

Kiko começa a rir.
- Tem algo errado comigo? - Comenta Bruno, agora quase chorando.
- Ai, Bruno, como eu posso te dizer isso? Eu gosto de homens que sejam mais delicados do que eu. Sabe, de jeito frágil, assim eu posso dominá-los, ser o dono deles...

- E alguém que é assim te quer do jeito que você é?
- Confesso que é meio difícil... todas querem ter um cara como você...

- Menos você...
- É... Você deve ser mesmo o sonho de muitos gays por aí, mas não faz meu tipo...
- Ok.

Depois daquela conversa, Bruno saía para as boates tentando atrair as mulheres, mas não via mais graça. Confuso, resolveu ir a boates gays, ele realmente os atraía, e isso inflava seu ego. Mas ainda assim, ele não via graça o suficiente. O único que lhe interessava mesmo era quem o rejeitava. Kiko.


De corpo musculoso, o brutamontes sentiu-se ridículo quando em certa noite resolveu se travestir, passando inclusive maquiagem.
- Pois é, filhadaputa, quero ver se assim eu não te convenço a gostar de mim.
Kiko abriu a porta de casa. Estava falando ao celular quando vê um homem enorme vestido estranhamente de mulher...
- Bruno, o que é isso?
- Assim você gosta mais de mim?
- Nossa, Bruno, que esquisito... Isso não combina com você! Você tem que ser o que você é, sabe, não deve mudar por causa das pessoas.
- Mas eu estou apaixonado por você.
Kiko delicadamente pega na mão de Bruno, respira profundamente e fala:
- Tá! Não sei... a gente tenta... Mas você não precisa se vestir dessa maneira... apenas me prometa que você não vai se incomodar se... eu for o dominador... e judiar um pouco de você.
- Eu prometo... – Bruno responde feliz, com lágrimas nos olhos.

Seis meses depois, o Bruno e Kiko recebem em sua casa uma dupla de amigos gays.
Os amigos observam que enquanto Kiko serve as bebidas delicadamente, Bruno fala alto, grosso, enquanto termina de fazer um churrasco para as visitas. Quando vão embora, uma comenta com a outra:
- Não sei o que o Kiko fez pra conquistar esse bofe, mas que inveja... aposto que o bofe deve acabar com ela na cama... qual viado não quer um homem com jeito de macho assim pra chamar de seu?


...


(*) Esse conto faz parte da coletânea de histórias e causos gays DELICIOSO DESENFREIO.
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